Atualidade, História

A Europa está a desintegrar-se?

A Europa está a desintegrar-se

A Europa está a desintegrar-se

Anos 30 do século XX. Europa. Pós-guerra, e passados os “loucos” anos 20, o continente está em profunda mudança. Traço comum: o sentimento nacionalista. Na Alemanha, na Itália, com uma expressão mais extremada. Mas também em Espanha ou Portugal, entre outros, a extrema direita parecia ser a resposta ao avanço do comunismo da União Soviética e ao liberalismo económico dos Estados Unidos.

O nacionalismo tem inerente um sentimento de isolacionismo. Na prática, pensa-se que “sozinhos estamos melhor”, e que “não necessitamos dos outros para vivermos e nos desenvolvermos”. Em setores mais radicais, existe inclusivamente um sentimento de superioridade relativamente a outros povos/países. No fundo, considera-se que “o nosso pensamento, a nossa cultura, a nossa forma de estar, deverá prevalecer, em detrimento de outros povos, considerados inferiores”. Voltando aos anos 30 do século XX, sabemos bem onde nos conduziu este pensamento ideológico…

Paremos um pouco, e olhemos para o panorama atual. Na Catalunha fala-se abertamente de independência. Em Itália, os referendos nas regiões ricas da Lombardia e Veneto tiveram resultados esmagadores a favor de mais autonomia. Na República Checa, os nacionalistas venceram recentemente. Na Áustria e na Holanda também os nacionalistas têm ganho peso. Em França, nas últimas eleições presidenciais, vivemos o impensável até há algum tempo: a extrema direita a discutir, “taco a taco”, a eleição presidencial. Bem, e depois temos sempre o Brexit. E paralelamente a este, a Escócia com claras intenções independentistas.  Do outro lado do Atlântico sopram também ventos isolacionistas. A liderança de Trump trouxe, de alguma forma, uma mudança de paradigma na política externa dos EUA, tendo naturalmente afetado a sua relação com a Europa.

O continente europeu viveu nos últimos 70 anos, desde o final da II Grande Guerra até aos nossos dias, o seu período de maior expansão económica e social. Com altos e baixos, é certo, a união da Europa consolidou a paz no continente, e permitiu anos de crescimento económico e de desenvolvimento social. A União Europeia como atualmente a conhecemos, com todos os seus defeitos e virtudes, permitiu o surgimento de um sentimento europeu entre muitos dos cidadãos dos vários países. Um cidadão de um qualquer país europeu tem um conjunto de direitos assegurados, caso pretenda mudar-se para outro país da UE e aí trabalhar e construir a sua vida. Por exemplo, hoje damos por garantida a livre circulação de pessoas e bens, mas se olharmos para trás observamos o longo caminho percorrido até aqui, e quão difícil foi essa conquista. Imaginamo-nos de novo a ir a Espanha, e a ter controlo fronteiriço?

Por seu lado, a Europa apenas poderá aspirar a ser um player mundial relevante, se mantiver e consolidar a sua união. A ascensão da China, a (ainda) posição dominante dos EUA em alguns interesses estratégicos, a relevância energética da Rússia, tenderão a chamar para si todo o protagonismo no “palco principal” das decisões geoestratégicas mundiais, a menos que a Europa tenha a capacidade de, unida, “chegar-se à frente” também.

Há muito a fazer para consolidar uma Europa de todos e para todos, inclusiva, solidária? Há certamente. Mas o caminho da divisão não é provavelmente o adequado. Quando a solidariedade entre povos deixa de prevalecer, e passamos sobretudo a “olhar para o próprio umbigo”, não podemos esperar um futuro brilhante. Já “vimos este filme” no passado, mas parece que não aprendemos nada…

 

Até breve!

Marco Libório

CEO da UWU Solutions / Consultor / Docente 

blog@marcoliborio.me

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Restauração da Independência… e dos feriados

Veloso Salgado - A aclamação de D. João IV

Veloso Salgado – A aclamação de D. João IV

Estas primeiras semanas de dezembro são marcadas pelos feriados. O dia 1 de dezembro celebra a Restauração da Independência, e o dia 8 é um feriado religioso que assinala a Imaculada Conceição. Vejamos sucintamente a origem do primeiro.

A morte de D. Sebastião, na batalha de Alcácer-Quibir, conduz a uma crise de sucessão, já que o jovem rei não terá deixado descendência. Após algumas tentativas de manter a independência do reino, a partir de 1580, Filipe II de Espanha torna-se também Filipe I de Portugal, oficializando a União Ibérica. 60 anos depois, no dia 1 de dezembro de 1640, dá-se o fim da União Ibérica e da Dinastia Filipina, restaurando-se a independência de Portugal, marcando simultaneamente o início da Dinastia de Bragança, com a aclamação de D. João IV como rei de Portugal.

O Governo anterior, no âmbito da aplicação do programa da Troika, decidiu retirar 4 feriados: 2 religiosos (o Corpo de Deus, que se celebra 60 dias após a Páscoa; e o Dia de Todos-os-Santos a 1 de novembro) e 2 civis (Implantação da República, a 5 de outubro; e a Restauração da Independência, a 1 de dezembro). O atual Governo decidiu repô-los. Na minha opinião bem.

Muito se tem discutido nos últimos anos sobre o impacto económico dos feriados. Se por um lado esse impacto é, de certa forma desconhecido, por outro considero que teremos que analisar esta questão numa perspetiva mais alargada, que não se reduza apenas ao prisma económico.

Efetivamente não é fácil quantificar o efeito económico da abolição dos feriados. Obviamente que, ao aumentarmos as horas de trabalho anuais, reduzimos marginalmente o custo/hora dos trabalhadores (assumindo a manutenção do valor salarial). No entanto, é relativamente consensual entre os economistas que o impacto da abolição de alguns feriados não é facilmente mensurável.

Relativamente à forma como encaramos os feriados, nomeadamente os civis que foram agora recuperados, parece-me muito redutora a perspetiva economicista. Enquanto país temos uma história longa, cheia de acontecimentos interessantes, dos quais os mais importantes devem ser recordados. Considero que, tanto a Restauração da Independência como a Implantação da República, são datas marcantes da história portuguesa, e moldam de alguma forma o país que somos hoje.

Sou daqueles que defende que, para compreendermos o presente e projetarmos o futuro, importa desde logo conhecer bem o passado. Os feriados referidos têm uma função essencial de dar relevo aos respetivos acontecimentos, passando de geração em geração a relevância dos mesmos para a nossa história coletiva. É, na minha perspetiva, uma forma de cimentar a nossa sociedade enquanto nação, que partilha uma história comum, representando uma verdadeira comunidade.

A finalizar, uma curiosidade: os reis de Espanha estiveram recentemente em visita oficial a Portugal. Pelo que se observou, a visita correu muito bem, e reforçou os laços entre os dois países (por exemplo, vão ser retomadas as cimeiras luso-espanholas). O rei Filipe VI terminou a sua visita ao nosso país no dia 30 de novembro, um dia antes da comemoração do fim da Dinastia Filipina em Portugal… os tempos mudaram, e ainda bem.

 

Até breve!

Marco Libório

CEO da UWU Solutions / Consultor / Docente 

blog@marcoliborio.me

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