Atualidade

O João, o Carlos, e os dois “Portugais”

O João, o Carlos, e os dois “Portugais”

O João, o Carlos, e os dois “Portugais”

O João e o Carlos conhecem-se desde que se recordam de “ser gente”. Infância passada porta com porta, a rua deles era palco de grandes jogadas, e de golos de “levantar as bancadas”. Por norma jogavam na mesma equipa, pois tinham criado uma empatia especial desde o dia em que se conheceram. Ambos filhos únicos, cada um deles representava para o outro o irmão que efetivamente não tinham.

Também na escola andavam quase sempre juntos. Pertenceram à mesma turma até ao 9º ano, mas a partir do 10º escolheram áreas diferentes. No entanto, mantiveram o contacto e a sua amizade não foi afetada. Ambos seguiram para o ensino superior, mas cada um na sua área de conhecimento. Atualmente o João é professor, e o Carlos tem uma empresa própria.

Já há algum tempo que não se viam. O Carlos decidiu ligar ao João um destes dias, desafiando-o para almoçar: “Então João, como estás tu, pá?! Temos que ir almoçar e pôr a conversa em dia!”. O João aceitou sem hesitações, e lá foram almoçar dois dias depois.

Carlos: “Então João, como vão as coisas? Está tudo bem lá por casa? A Sandra e os miúdos estão bem?”

João: “Tudo do melhor. E a Rita e os garotos também?”

Carlos: “Sim, felizmente estamos todos bem. Então e na escola, como vão as coisas? Isso de aturar garotada todos os dias não deve ser fácil. Gabo-te a paciência. O que vale é que agora tens um Governo “amigo”, que vos dá tudo o que vocês querem.”

João: “Lá estás tu! Nós só estamos a lutar por aquilo que temos direito. É mais que justo que nos reponham o que nos tiraram no passado. Nós não temos culpa da crise por que o país passou.”

Carlos: “Então e os empresários, como eu, tiveram alguma culpa? Eu também queria que alguém me repusesse o que perdi nos piores anos da crise. Fui obrigado reduzir drasticamente custos na minha empresa, que ainda assim esteve quase a fechar por quedas na faturação, e o Estado em momento algum me apoiou. Em vez disso, ainda tive que suportar um enorme aumento de impostos.”

João: “Ok, mas repara: a nós congelaram-nos as carreiras, subiram-nos o IRS durante os anos da troika, e aumentaram-nos o número de alunos por turma; ou seja, passámos a trabalhar mais e a receber menos. Achas justo?”

Carlos: “Sinceramente não acho justo. Dou-te alguma razão. Mas ainda assim há uma diferença fundamental entre quem trabalha no Estado e quem trabalha no privado: os primeiros não perdem o emprego, enquanto que, como sabes, muitos trabalhadores do privado perderam o seu emprego durante a crise.”

João: “Pois, mas isso é assim porque, quando “aperta”, os patrões começam logo a despedir pessoas.”

Carlos: “João, desculpa, mas tenho que discordar. Então, mas tu achas mesmo que algum dono de uma empresa, no seu perfeito juízo, gosta de despedir pessoas? Eu não posso falar por todos os outros, mas posso dizer-te que, enquanto empresário, a decisão que mais me custa é ter que despedir alguém. E outros empresários que conheço pensam da mesma maneira. Numa empresa grande, em que não existe relação pessoal entre quem despede e quem é despedido, até pode haver esse distanciamento. Agora numa pequena empresa como a minha, e a de milhares de empresários deste país, as coisas não são assim como pensas.”

João: “Ok, se calhar tens razão nesse aspeto. Mas também sabes que existem muitos empresários que fogem ao fisco, e não pagam os impostos que deviam pagar. Nós, funcionários públicos, pagamos todos os impostos de acordo com a lei.”

Carlos: “É verdade. Existem certamente empresários que não pagam o valor de impostos que deviam. Mas também te digo que, hoje em dia, devem ser uma minoria. Com todo o controlo que existe – faturas certificadas, SAFT’s, cruzamento eletrónico de dados, etc. – estou convencido que o tempo da grande fuga fiscal já passou.”

João: “Não fazia ideia que isso já estava assim tão rigoroso.”

Carlos: “Pois, mas está. Segundo me diz o meu contabilista, Portugal tem um dos sistemas de controlo fiscal mais eficientes do Mundo. Afinal sempre somos bons em alguma coisa!”

João: “Bem, mas ainda assim, somos dos países com mais baixos salários, nomeadamente os dos professores. Temos que continuar a lutar pelos nossos direitos, caso contrário não nos dão nada.”

Carlos: “Acho que fazem bem. Só tenho pena é que os pequenos empresários não sejam ouvidos da mesma maneira pelo poder político. Os vossos sindicatos têm de facto a capacidade de marcar a agenda política. Nesse aspeto, merecem o meu reconhecimento.”

João: “Porventura falta-vos unirem-se, e encontrarem alguém que vos represente e que faça “barulho” junto dos políticos. Sabes o que diz o povo: quem não chora…”

Carlos: “Se calhar é isso. Bem, vamos lá escolher o que almoçamos hoje…”

 

Qual dos dois tem razão? Ou têm os dois? Fica lançada a discussão…

Até breve!

Marco Libório

CEO da UWU Solutions / Consultor / Docente 

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Atualidade, História

A Europa está a desintegrar-se?

A Europa está a desintegrar-se

A Europa está a desintegrar-se

Anos 30 do século XX. Europa. Pós-guerra, e passados os “loucos” anos 20, o continente está em profunda mudança. Traço comum: o sentimento nacionalista. Na Alemanha, na Itália, com uma expressão mais extremada. Mas também em Espanha ou Portugal, entre outros, a extrema direita parecia ser a resposta ao avanço do comunismo da União Soviética e ao liberalismo económico dos Estados Unidos.

O nacionalismo tem inerente um sentimento de isolacionismo. Na prática, pensa-se que “sozinhos estamos melhor”, e que “não necessitamos dos outros para vivermos e nos desenvolvermos”. Em setores mais radicais, existe inclusivamente um sentimento de superioridade relativamente a outros povos/países. No fundo, considera-se que “o nosso pensamento, a nossa cultura, a nossa forma de estar, deverá prevalecer, em detrimento de outros povos, considerados inferiores”. Voltando aos anos 30 do século XX, sabemos bem onde nos conduziu este pensamento ideológico…

Paremos um pouco, e olhemos para o panorama atual. Na Catalunha fala-se abertamente de independência. Em Itália, os referendos nas regiões ricas da Lombardia e Veneto tiveram resultados esmagadores a favor de mais autonomia. Na República Checa, os nacionalistas venceram recentemente. Na Áustria e na Holanda também os nacionalistas têm ganho peso. Em França, nas últimas eleições presidenciais, vivemos o impensável até há algum tempo: a extrema direita a discutir, “taco a taco”, a eleição presidencial. Bem, e depois temos sempre o Brexit. E paralelamente a este, a Escócia com claras intenções independentistas.  Do outro lado do Atlântico sopram também ventos isolacionistas. A liderança de Trump trouxe, de alguma forma, uma mudança de paradigma na política externa dos EUA, tendo naturalmente afetado a sua relação com a Europa.

O continente europeu viveu nos últimos 70 anos, desde o final da II Grande Guerra até aos nossos dias, o seu período de maior expansão económica e social. Com altos e baixos, é certo, a união da Europa consolidou a paz no continente, e permitiu anos de crescimento económico e de desenvolvimento social. A União Europeia como atualmente a conhecemos, com todos os seus defeitos e virtudes, permitiu o surgimento de um sentimento europeu entre muitos dos cidadãos dos vários países. Um cidadão de um qualquer país europeu tem um conjunto de direitos assegurados, caso pretenda mudar-se para outro país da UE e aí trabalhar e construir a sua vida. Por exemplo, hoje damos por garantida a livre circulação de pessoas e bens, mas se olharmos para trás observamos o longo caminho percorrido até aqui, e quão difícil foi essa conquista. Imaginamo-nos de novo a ir a Espanha, e a ter controlo fronteiriço?

Por seu lado, a Europa apenas poderá aspirar a ser um player mundial relevante, se mantiver e consolidar a sua união. A ascensão da China, a (ainda) posição dominante dos EUA em alguns interesses estratégicos, a relevância energética da Rússia, tenderão a chamar para si todo o protagonismo no “palco principal” das decisões geoestratégicas mundiais, a menos que a Europa tenha a capacidade de, unida, “chegar-se à frente” também.

Há muito a fazer para consolidar uma Europa de todos e para todos, inclusiva, solidária? Há certamente. Mas o caminho da divisão não é provavelmente o adequado. Quando a solidariedade entre povos deixa de prevalecer, e passamos sobretudo a “olhar para o próprio umbigo”, não podemos esperar um futuro brilhante. Já “vimos este filme” no passado, mas parece que não aprendemos nada…

 

Até breve!

Marco Libório

CEO da UWU Solutions / Consultor / Docente 

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Atualidade

Comprei uma televisão nova…

Comprei uma televisão nova...

Comprei uma televisão nova…

Há cerca de duas semanas a minha televisão da sala começou a dar sinais de cansaço. As cores distorcidas, a imagem desfocada, enfim, o princípio do fim. Escusado será dizer que o aparelho, que obviamente tem vontade própria, começou a demonstrar os sintomas da “doença” no exato momento em que eu assistia ao último episódio de uma série que venho seguindo ultimamente. Claramente, a “maquineta” fê-lo só para me irritar. Ou então, queria despedir-se em grande.

Certo é que, ao final de duas semanas de alguma irritação, e considerando simultaneamente os conselhos de alguns amigos, tão especialistas na matéria como eu, que iam no sentido da “morte anunciada” do televisor, resolvi começar a pesquisar por um aparelho novo.

A compra da minha anterior televisão, já no longínquo ano de 2010, foi feita numa loja da especialidade, que se situava perto de minha casa (refiro “situava” porque há uns anos fechou). O processo de compra foi o “normal”: fui atendido na loja por um senhor, que me informou das várias alternativas à minha disposição dentro do orçamento que eu indiquei, e que me mostrou os vários aparelhos expostos na prateleira da loja. Acabei por selecionar um deles, que na altura me pareceu o mais adequado em termos de relação qualidade/preço. O televisor durou sete anos sem ter problemas, o que considero aceitável.

Em 2017 tudo foi diferente de 2010. Desta feita não me dirigi a nenhuma loja física. Fui ao Google, e pesquisei por “Smart TV”. Esta simples pesquisa permitiu-me aceder a diferentes informações úteis, das quais destaco: a) vários conselhos práticos sobre como fazer a melhor escolha; b) onde encontrar o melhor preço para o tipo de aparelho escolhido.

Por exemplo, o meu caro amigo leitor sabe qual o tamanho ideal de ecrã para a sua sala? Eu confesso que desconhecia. Agora sei que existe uma tabela de correspondência, que relaciona o tamanho do ecrã com a distância a que o televisor fica de nós. E tive em conta esta informação útil na compra que efetuei. Não sou nem quero ser especialista em eletrónica de bens de consumo, mas esta informação técnica foi-me extremamente útil, e influenciou positivamente o meu processo de compra. Eu, enquanto comprador, pretendo acima de tudo informação simples, útil, e clara que me permita fazer a melhor escolha.

Após a pesquisa técnica, e escolhido o modelo pretendido, parti para a segunda fase do processo: o preço. Voltei ao Google, e pesquisei pela marca e modelo que tinha escolhido. Rapidamente tinha informação sobre os preços de venda de vários revendedores. Escolhi o melhor preço, que incluía a entrega e montagem em minha casa.

Partilhei esta experiência consigo, caro leitor, que provavelmente está a vivenciar o mesmo processo de mudança. Analisados os dois processos de compra, sete anos passados representam efetivamente uma enorme diferença.

O paradigma mudou e está a transformar rapidamente o mercado de retalho. Em grande parte dos casos, ter uma rede alargada de lojas físicas já não é sinónimo de criação de valor para o cliente. Veja-se o exemplo da Toys R’US, que recentemente entrou em processo de falência. Este modelo de negócio parece ter os dias contados. Há alguns (poucos) anos atrás alguém imaginaria este cenário?

Se trabalha no retalho, permita-me um conselho: esteja atento a este processo de profunda mudança, pois o seu negócio/empresa pode estar em risco.

Até breve!

Marco Libório

CEO da UWU Solutions / Consultor / Docente

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Atualidade, Economia

Já tenho saudades do Dr. Medina Carreira

Já tenho saudades do Dr. Medina Carreira

Já tenho saudades do Dr. Medina Carreira

Por estes dias cumpriram-se dois meses sobre o falecimento do Dr. Medina Carreira. Criticado por muitos, para mim representou (e representa) uma referência de seriedade e frontalidade, baseando as suas opiniões em factos e em números. Compreendo que não fosse bem visto pela classe política, e também percebo porque razão os políticos em geral não aceitavam debater com ele. Onde muitos viam pessimismo, eu e muitos outros víamos realismo e análise fria dos números.

Vem esta singela homenagem ao Dr. Medina Carreira a propósito da estimativa dos dados macroeconómicos do 1º semestre, recentemente revelada pelo INE, e sobretudo da forma como podemos (ou devemos) olhar para os indicadores revelados. Comecemos pelos pontos positivos, mas sem esquecer o lado menos bom.

O PIB português cresceu 2,8% no primeiro semestre deste ano, comparativamente com o mesmo período de 2016. É o maior crescimento homólogo de um primeiro semestre desde o ano 2000. É, de facto, assinalável. No entanto, parece que o PIB poderia ter crescido ainda mais. Segundo o INE, “a procura externa líquida registou um contributo ligeiramente negativo” para o crescimento do PIB. Efetivamente verificou-se uma desaceleração das importações, mas as exportações desceram ainda mais. Se as exportações tem sido um dos principais motores (a par com o turismo) do nosso crescimento, um aumento das importações não é necessariamente mau, desde que sejam sobretudo de bens de capital e menos de bens de consumo. De qualquer forma, o aumento das importações deve ser sempre olhado com atenção, tendo em conta a nossa crónica dependência do exterior.

Consideremos agora alguns aspetos que, embora sendo menos positivos, convém não serem esquecidos.

Comecemos pela dívida. Já aqui por várias vezes referi a questão da nossa dívida como um problema grave da nossa economia, e que teima em não ser resolvido. E o pior é que está a agravar-se. Segundo dados do Banco de Portugal, a dívida pública portuguesa voltou a crescer em Junho, aumentando 1.800 milhões de euros para 249,1 mil milhões de euros, ou seja, um novo máximo de sempre. Comparando com Junho de 2016, o aumento do valor da dívida pública supera os 9,2 mil milhões de euros. Simultaneamente, registou um aumento de 8 mil milhões de euros em relação ao final do ano passado. Ainda em termos líquidos, isto é, descontando os depósitos, a dívida terá aumentado 1,3 mil milhões, de euros para 229,4 mil milhões de euros, o que também representa o valor mais elevado de sempre.

Por seu lado, a poupança está em mínimos históricos. Segundo dados revelados pelo INE recentemente, com referência ao primeiro trimestre de 2017, o nível de poupança das famílias situa-se atualmente em 3,8% do rendimento disponível. Para termos uma ideia mais clara do que isto significa, entre 1999 e 2016 o rendimento disponível das famílias portuguesas aumentou 49% enquanto a poupança decresceu 44%. No mesmo período, os dados na UE apontam para um aumento do rendimento disponível (57%) e da poupança (36%).

Uma economia que não poupa dificilmente poderá crescer sustentavelmente. Basta pensar no seguinte: quando vamos ao banco solicitar um empréstimo para comprar a nossa casa, existem duas hipóteses: a) o banco tem liquidez própria (depósitos e poupanças feitos por todos os clientes desse banco); b) o banco não tem liquidez própria suficiente, e terá que se financiar noutra instituição de crédito, para poder “revender-nos” o dinheiro do nosso empréstimo. Ora, como no caso português a economia apresenta níveis de poupança muito baixos, os bancos portugueses têm necessidade de se financiar fora do país, para poderem eles próprios financiarem os seus clientes internos.

Para concluir temos o panorama seguinte: a) o PIB a registar uma trajetória de crescimento, há muito não observada; b) a dívida, e nomeadamente a dívida pública, a crescer de forma preocupante e sem aparente controlo; c) a poupança em mínimos históricos; d) a vulnerabilidade face ao exterior a aumentar, agravada pela permanente necessidade de importar e de nos financiarmos lá fora.

Se aqui estivesse o saudoso Dr. Medina Carreira, usaria da sua bem conhecida frontalidade para afirmar com todas as letras que esta receita não iria dar bom resultado. E eu tenderia a concordar com ele…

Até breve!

Marco Libório

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Qatar: religião ou economia?

Qatar: religião ou economia?

Qatar: religião ou economia?

A Arábia Saudita, o Bahrein, o Egito e os Emirados Árabes Unidos anunciaram recentemente o corte de relações diplomáticas com o Qatar. Segundo os mesmos, o corte de relações teve como fundamento principal o pretenso apoio do Qatar aos jiadistas, nomeadamente os do autoproclamado Estado Islâmico (Daesh).

Nos últimos dias a crise diplomática intensificou-se com um ultimato a Doha, por parte dos vizinhos árabes do Golfo, com uma lista com 13 exigências. Do ultimato constam, nomeadamente, a exigência de encerramento da televisão al-Jazeera, bem como de uma base militar da Turquia, e a redução das ligações diplomáticas com o Irão. A resposta do Qatar, pela voz do seu ministro dos negócios estrangeiros, foi no sentido da rejeição total do ultimato. Do ponto de vista de Doha, trata-se de uma violação da soberania do país, e por isso “inaceitável”.

Vejamos agora a questão do Golfo por outro prisma. O Qatar é um dos maiores produtores mundiais de gás natural. Recentemente anunciou o aumento da produção na ordem dos 30%, tornando-se desta forma no maior exportador mundial de GNL (Gás Natural Liquefeito). Nas próximas décadas o GNL parece ser uma alternativa muito válida (quiçá a principal) ao petróleo. Se esta tendência se confirmar, significa que assistiremos nos próximos anos à queda do preço do petróleo em detrimento do gás natural.

Sabemos bem a importância do petróleo para nações como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos. Ora, são justamente estes países que estão na linha da frente contra o Qatar, na mais recente crise do Golfo. Neste “jogo” tático, a posição das grandes companhias petrolíferas (ExxonMobil, Shell, Total, etc.) parece relativamente ambígua. Embora existam pressões por parte da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos, aquelas empresas têm interesses muito relevantes no Qatar, posicionando-se estrategicamente na produção de GNL, tendo em conta a crescente relevância deste no mercado energético mundial.

Aqui chegados, temos o seguinte. Por um lado, um ultimato de base política e religiosa, já que se baseia num presumível apoio do Qatar ao Daesh. Por outro, um complexo jogo tático que envolve o controlo das principais fontes energéticas mundiais.

Tendo em conta o que referi atrás, e se juntarmos tantos outros dados à equação (por exemplo, o atual enorme défice orçamental da Arábia Saudita), sou levado a concluir que, mais uma vez na História da Humanidade, a religião é o pretexto ideal para justificar um conflito que não terá outro objetivo senão a conquista de poder económico. Os séculos vão passando, mas o fundamental não muda. Infelizmente para todos nós.

 

Até breve!

Marco Libório

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O lado negro de Portugal

O lado negro de Portugal

O lado negro de Portugal

Portugal está em “altas”. São as vitórias desportivas. É o festival da canção. São os números da economia. Enfim, é só boas notícias!

Veja-se o exemplo do Turismo. Nunca esteve tão bem, e as nossas principais cidades desenvolvem-se a olhos vistos, em grande parte com base nesse grande afluxo de turistas. Lisboa e Porto são, atualmente, cidades com um nível de atratividade altíssimo, rivalizando com as melhores cidades europeias. Portugal sabe receber como poucos, e a segurança é um ativo muito valioso nos dias de hoje.

Mas existe o outro lado, o nosso lado negro… O lado negro de Portugal é o país esquecido, território fértil dos incêndios florestais.

Tenho vários amigos estrangeiros que, recorrentemente, me fazem a mesma pergunta: como é possível que em Portugal existam, todos os anos, tantos incêndios florestais? Bem, na verdade eu também não sei ao certo. Todos os verões pululam nos media especialistas na matéria, cada um com o seu ponto de vista, certamente baseado em conhecimento e experiência que eu obviamente não contesto. Não é a minha área de conhecimento, e portanto limito-me simplesmente a ouvir quem sabe e a esperar que os responsáveis atuem em conformidade com os pareceres técnicos. Mas não deixo de refletir sobre esta problemática… e é esse convite à reflexão que lhe faço a si, que está a ler este artigo.

Deste modo, tanto a diminuição da população nas áreas florestais como o seu acelerado envelhecimento constituem um factor de risco de incêndio que, associado à falta de mão-de-obra jovem e ao absentismo dos proprietários florestais, obrigam a deixar as matas entregues a si próprias; em consequência, a falta de limpeza muito irá facilitar a progressão do fogo. (…). Outro aspecto vital para a economia florestal dos anos futuros é que, a manter-se o atual ritmo dos fogos, cuja destruição é muito superior à capacidade de regeneração das árvores, a floresta está condenada. De facto, a área ardida de incultos vem aumentando nos últimos anos, proporcionalmente à área ardida em floresta.” Estes excertos pertencem a um artigo publicado em 1991 (!!!), da autoria do Prof. Luciano Lourenço. Pelos vistos o problema já não é novo. Apesar de aquelas palavras terem mais de 25 anos, soam tragicamente atuais, ainda para mais tendo em conta os acontecimentos recentes em Pedrógão Grande.

Os especialistas apresentam várias explicações para o flagelo dos fogos em Portugal, e muitos deles avançam inclusivamente com soluções para o problema. Conforme disse atrás, e repito, não tenho conhecimentos técnicos para avaliar quais as razões ou quais as soluções mais adequadas. Mas, enquanto cidadão relativamente informado é meu dever revoltar-me contra esta situação, e exigir que algo mude.

A questão fundamental está em saber se, enquanto sociedade, estamos preparados para a mudança necessária. Por exemplo, fala-se na necessidade de fazer um levantamento cadastral exaustivo, com o qual seja possível identificar os proprietários das terras. O objetivo será, posteriormente a essa identificação, proceder à responsabilização dos proprietários pela limpeza do que é seu. Dado o carácter de minifúndio que predomina no nosso território, esse trabalho poderá levar muito tempo. Pois, então é melhor começar já. A limpeza dos terrenos parece ser um aspeto fundamental para abrandar a propagação de um fogo florestal.

Por seu lado, o Estado estará em posição de exigir dos cidadãos se cumprir a sua parte. Parecem existir vários territórios florestais propriedade dos vários organismos estatais, que não estão devidamente limpos e cuidados. Dir-me-ão que num Estado de Direito, bastará fazer as leis, e todos os proprietários terão que cumprir. Bem, a lei já existe, mas pelos vistos não está a ser cumprida na maioria das situações.

Tenho para mim que “dar o exemplo” é a chave. Sejamos mais exigentes com os organismos estatais responsáveis, e saudemos depois que também sejam mais exigentes connosco enquanto cidadãos.

Estamos nós, que herdámos um pedaço de terra no “meio do nada”, preparados para assumir essa responsabilidade cívica, e em simultâneo exigir que os outros (cidadãos e Estado) o façam? Fica a questão para reflexão.

Se nada fizermos, certamente Pedrógão Grande irá repetir-se. É esse o preço que pagaremos. É este o nosso lado negro.

 

Até breve!

Marco Libório

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As lições empresariais do Salvador

As lições empresariais do Salvador

As lições empresariais do Salvador

Foi o Euro 2016, e agora a Eurovisão. Está escrito: todas as competições cujo nome comece por “Euro” são ganhas por Portugal. Não damos qualquer hipótese.

Na recente edição do Festival da Canção parecia que tínhamos regressado aos anos 80. Meio país parou à frente do televisor (a outra metade estava a festejar a vitória do Benfica no campeonato), torcendo pela vitória do Salvador. E não é que ganhou mesmo?! E não só ganhou, como arrasou com um recorde de pontos, tornando-se instantânea e meteoricamente um fenómeno nas redes sociais.

Depois das emoções daquela noite, e da recepção apoteótica no aeroporto, importa meditarmos sobre a vitória dos manos Sobral.

Antes de mais, porque ganhou o Salvador de forma tão avassaladora? Do meu ponto de vista, por duas razões essenciais.

Desde logo porque houve a coragem de ser diferente. Muito diferente dos restantes concorrentes. Os competidores apostaram todos na fórmula “quanto mais foguetório melhor”, para além da maioria cantar em inglês. O Salvador “apenas” cantou muito bem uma ótima canção, e na sua língua materna.

Depois, porque não se ficou pela diferença. Primou pela qualidade. Foi melhor que todos os outros, quer na sua interpretação emotiva e desconcertante, quer pela própria canção, uma brilhante composição da Luísa Sobral.

Que ilações podemos nós tirar da vitória do Salvador para a gestão das nossas empresas?

A primeira é que a aposta na qualidade vale a pena. É minha convicção que, se a competição for “limpa”, quem é melhor ganha. É assim, também, no mundo empresarial. Os clientes procuram o melhor produto ou o melhor serviço, e se o mercado funcionar sem enviesamentos, os melhores produtos e os melhores serviços são os preferidos dos consumidores.

A segunda aponta para a confirmação de que inovar traz frutos. Perguntar-me-ão: a canção do Salvador inovou? Parece-me óbvio que sim. A participação portuguesa inovou claramente, ao seguir um caminho completamente diferente. Inovar não é apenas sinónimo de avanço tecnológico. Inovar é muito mais do que isso. É ver o que os restantes não veem. É identificar as oportunidades e tirar proveito das mesmas, antes mesmo dos outros terem percebido que existe ali uma oportunidade. Inovar verdadeiramente conjuga talento com genialidade. Arthur Schopenhauer, filósofo alemão do século XIX, tem uma frase brilhante a este propósito: “O talentoso atinge um alvo que ninguém consegue atingir. O genial atinge um alvo que ninguém consegue ver.”. O desafio nas nossas empresas é criar um ambiente e uma dinâmica internos propícios ao talento e à genialidade, que naturalmente conduzem à inovação, pois só dessa forma estaremos aptos a desenvolver propostas de valor adequadas às necessidades dos nossos clientes.

A terceira sublinha que o trabalho e a preparação recompensam. Como é costume dizer-se, “a sorte dá muito trabalho”. Os manos Sobral e a sua equipa puseram todo o seu empenho neste desafio, e colheram os frutos no final. A competição entre empresas é, hoje mais do que nunca, intensa e global. Vencer no mercado só é possível com uma aposta clara e incessante na melhoria contínua dos produtos/serviços. Sermos melhores dá trabalho, muito trabalho, e todos os dias. Basta olhar para alguns casos de sucesso internacional de empresas portuguesas, e facilmente chegamos a este denominador comum.

A quarta alerta-nos para o facto de que a autenticidade atrai. A interpretação do Salvador revelou autenticidade como nenhuma outra em disputa. Era visível que o Salvador sentia cada palavra do que cantava, o que emocionou toda a gente, ainda para mais tendo em conta que a maioria do público não entendia sequer o que ele dizia. Transportando esta questão para o mundo empresarial, consideremos o exemplo do Turismo, atividade de importância estratégica para o país. O que procura a maioria dos turistas que nos visitam, senão a autenticidade da nossa cultura, dos nossos costumes, das nossas gentes? Saibamos nós tirar proveito disto, ao oferecer um produto turístico com base nessas premissas, e não massificado.

A finalizar uma reflexão e uma confissão. Reflexão: provavelmente o Salvador salvou o próprio conceito da Eurovisão, tal foi o impacto da sua abordagem disruptiva. Confissão: tenho que confessar que me emocionei com a vitória do Salvador. A canção é de facto muito bonita, a interpretação excecional, e ganhar foi a “cereja no topo do bolo”. E você, conseguiu evitar uma lagrimazita? Vá lá, confesse…

 

Até breve!

Marco Libório

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A mota de água

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A mota de água

Vivemos dias de temperaturas altas, anormalmente altas para a época do ano. Parece que o Verão chegou mais cedo, e nada melhor que uma mota de água para disfrutar em pleno numa das nossas maravilhosas praias.

Não. Eu não vou escrever um artigo sobre motas de água, fique o leitor descansado. O tema poderá ter o seu interesse, mas eu vou apenas debruçar-me sobre uma mota de água em particular…

Nuno Vasconcellos era, até há uns tempos atrás, considerado uma empresário-modelo da nossa sociedade. Visto como um empresário de sucesso, líder do grupo Ongoing, esteve envolvido em vários negócios mediáticos, entre os quais a tentativa de compra da Media Capital (que detém, por exemplo, a TVI). Recorde-se que a Ongoing chegou a ser um dos maiores acionistas da Portugal Telecom e da Impresa (dona do Expresso e da SIC). Também o Diário Económico, que encerrou de forma algo turbulenta, era propriedade da Ongoing.

Os tempos mais recentes não tem corrido de feição a Nuno Vasconcellos. Em agosto de 2016, a Ongoing foi declarada falida, com uma dívida acumulada de mais de 1,2 mil milhões de euros (dos quais 800 milhões têm como credores o Novo Banco e o BCP). A holding da família Rocha dos Santos, detida maioritariamente pela mãe de Nuno Vasconcellos foi também à falência. Mais recentemente, em janeiro deste ano, Nuno Vasconcellos foi também declarado insolvente em termos pessoais.

Recentemente, o jornal Expresso noticiou que o BCP tentou cobrar uma dívida de 9,7 milhões de euros do empresário, e que apenas terá encontrado uma mota de água. Caricato, no mínimo…

Nada me move em particular contra o empresário Nuno Vasconcellos. Mas revolta-me ver situações destas que, no fim, acabam por ser pagas por todos nós. Senão vejamos: casos como este criaram os “buracos” nos Bancos, a que pomposamente agora chamamos de “imparidades” (uma nota para o estimado leitor: quando ouvir falar em “imparidades”, já sabe que lhe vai calhar pagar uma parte a si). Essas imparidades têm sido cobertas por quem? Pelo Estado, na sua grande maioria. E qual é a forma do Estado fazer face a esses milhões de perdas? Aumentando impostos. Ora, é aqui que entramos todos nós.

Do meu ponto de vista, não se trata de uma discussão ideológica (embora politicamente a mesma seja levada, compreensivelmente, nesse sentido). É, sim, uma discussão entre justiça igual para todos, ou tratamento desigual, em função das relações privilegiadas que se tem (ou não se tem).

Enquanto cidadãos, temos o dever de exigir que a justiça portuguesa seja implacável com os responsáveis deste gigantesco problema que, atualmente, assola o nosso sistema financeiro, e que resultou de péssimas práticas de gestão, nomeadamente o crédito concedido sem as devidas garantias, e que tão caro nos está a sair enquanto sociedade.

Bem, mas nem tudo é mau. Pelo menos temos uma mota de água para “curtir” este verão.

Até breve!

Marco Libório

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China, EUA e os desafios da Europa

China, EUA e os desafios da Europa

China, EUA e os desafios da Europa

A China é hoje um player de primeira linha a nível mundial. Relativamente a este facto parece ninguém ter dúvidas. Daí devermos prestar a devida atenção às palavras do presidente Xi Jinping, proferidas recentemente em Davos. A linha central do seu discurso assentou no conceito de “futuro partilhado”. Xi Jinping reiterou a sua defesa de uma globalização económica sustentável, e sublinhou esta ideia com números deveras impressionantes: “Nos próximos cinco anos, a China vai importar 8 triliões de dólares de bens, atrair 600 biliões de dólares de investimento estrangeiro, fazer 750 biliões de investimento externo e os turistas chineses farão 700 milhões de visitas ao estrangeiro”.

Este posicionamento é tanto mais relevante se tivermos em consideração o que se passa nos EUA. Efetivamente, a nova administração americana parece querer construir um país “virado para si próprio”, baseando a sua retórica numa versão reciclada do “nacionalismo económico”, que parece esquecer que as grandes empresas americanas estão presentes em todo o mundo (o próprio Sr. Trump é dono de algumas multinacionais, pelo que a estratégia de comunicação adotada parece ser tudo menos inocente…).

As relações EUA-China já viveram melhores dias. Apesar do presidente Trump garantir que tudo continuará como dantes, a questão de Taiwan, bem como a das ilhas Senkaku (os EUA declararam apoio ao Japão nesta disputa de soberania com a China) poderão ser “pedras no sapato” no relacionamento bilateral num futuro próximo. Por seu lado, o “namoro” da China à Europa e à Ásia é uma realidade (veja-se o desenvolvimento de entidades como o Asia Infrastructure Investement Bank ou a Eurasian Economic Union). Acresce a aproximação da China à Austrália. Tendo em conta a forma hostil como começaram as conversações entre Donald Trump e Malcolm Turnbull (primeiro-ministro australiano), é de esperar que a Austrália reveja o seu posicionamento estratégico habitual de proximidade com os EUA.

Enquanto isto, a Europa parece estar relativamente à deriva, e preocupada em tentar curar as feridas internas, causadas pela divisão norte-sul (acentuada pela austeridade imposta aos países periféricos, longe de ser debelada), e reforçada pelo Brexit. A crescente onda nacionalista em alguns países é a “cereja no topo do bolo”, merecendo especial atenção o resultado das próximas eleições francesas, que ditarão certamente muito do que será o futuro da União Europeia e da própria Europa.

Seria fundamental para o equilíbrio de forças mundial que a União Europeia tivesse a capacidade de se reinventar enquanto bloco económico e político. Tendo em conta os últimos desenvolvimentos geoestratégicos, e nomeadamente o posicionamento ainda incerto dos EUA, o mundo necessita de uma Europa capaz de estar no principal tabuleiro do xadrez mundial, desempenhando um papel de equilíbrio de forças entre os vários interesses antagónicos. Veremos se as lideranças europeias têm essa capacidade…

Até breve!

Marco Libório

CEO da UWU Solutions / Consultor / Docente 

blog@marcoliborio.me

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Atualidade, Gestão

O “efeito Eucalipto”

O “efeito Eucalipto”

O “efeito Eucalipto”

O “efeito Eucalipto” é uma expressão usualmente utilizada para caracterizar uma situação em que um determinado fator se sobrepõe aos restantes que o rodeiam, causando nestes um efeito negativo. Convenhamos que a expressão não abona muito em favor daquela espécie…

Mas qual a origem desta conotação negativa? É comum serem identificados vários problemas relacionados com a cultura do Eucalipto, entre os quais se destacam: elevado consumo de água, erosão dos solos, monocultura florestal com impactos negativos na biodiversidade, ou incêndios mais difíceis de controlar.

Há uns meses atrás estive presente em Berlim numa reunião/conferência internacional sobre os desafios da Fiscalidade internacional. Pergunta neste momento o leitor: mas o que tem isso a ver com os Eucaliptos?! À partida, nada. Pois bem, nessa ocasião tive oportunidade de conhecer um colega da Austrália, que me disse algo curioso: “Caro Marco, já estive em Portugal e adorei o vosso país. Aliás, quase me senti em casa, tantos eucaliptais eu vi, o que permanentemente me fazia lembrar o sítio onde vivo. Já viajei por diversas partes do mundo, mas nunca tinha visto tanto Eucalipto fora da Austrália” (conforme certamente saberá o Eucalipto é originário daquelas paragens).

Vejamos alguns números. Os últimos dados do Inventário Florestal Nacional indicam-nos que os Eucaliptos tiveram um crescimento de 13% entre 1995 e 2010, e são hoje a espécie dominante na floresta portuguesa, com 812 mil hectares plantados, correspondentes a 26% do total de área florestal. O Sobreiro e o Pinheiro-bravo ocupam, cada um, 23%, e a Azinheira ocupa 11% da nossa floresta. Em termos territoriais globais, a floresta portuguesa ocupa 3,2 milhões de hectares, o que corresponde a 35,4% do território nacional, registando entre 2005 e 2010 um decréscimo de 57 mil hectares. Matos e pastagens ocupam 32% e as áreas agrícolas 24%.

Recentemente, no âmbito da reforma da floresta, o Governo avançou com a intenção de “congelar” a área ocupada por Eucalipto. O propósito essencial é parar a expansão de uma espécie que, entre 1995 e 2010, superou a área de Pinheiro-bravo e se consolidou como a mais importante da floresta nacional. Segundo o novo regime de arborização e rearborização, as novas plantações de eucalipto poder-se-ão concretizar apenas por substituição de áreas já plantadas, fazendo com que a espécie deixe de ser cultivada em espaços pouco ajustados à sua produtividade e se concentre nas áreas com condições ecológicas mais apropriadas. Como é óbvio, um coro de críticas a esta medida rapidamente surgiu, principalmente com origem nos agentes económicos (produtores florestais e indústria da pasta e do papel). Estes sustentam que a proibição não é uma solução adequada, nomeadamente porque potenciará o surgimento de mato, mais suscetível aos incêndios florestais.

Não sou especialista em gestão florestal, e muito menos em ambiente ou biodiversidade. Por isso, não me sinto preparado para discutir tecnicamente este tema nem para avaliar objetivamente quem tem razão. Apenas observo o fenómeno enquanto cidadão, e apenas nessa qualidade posso fazer algumas considerações: a) pratico regularmente BTT na região onde vivo, e onde existia uma vasta área de pinhal na qual era um prazer passearmos, hoje deparamo-nos com eucaliptais a perder de vista que transformaram para bem pior o cenário; b) fruto da minha atividade profissional viajo com frequência entre Lisboa e Caldas da Rainha, utilizando a autoestrada A8; convido o estimado leitor a observar a mancha florestal presente em redor desta via rodoviária, e a tentar descobrir áreas de floresta que não sejam Eucalipto.

Enquanto cidadão, e apenas nessa qualidade, pergunto aos técnicos e aos responsáveis pela gestão florestal do nosso país o seguinte: não estaremos a pôr em causa o futuro sustentável do nosso território, em troca da rentabilidade económica de curto prazo?

Fica o desafio para quem tecnicamente tenha a capacidade de responder à questão. Eu apenas posso dizer que disfrutar responsavelmente da Natureza num pinhal nada tem que ver com o aspeto desolador de um eucaliptal.

Até breve!

Marco Libório

CEO da UWU Solutions / Consultor / Docente 

blog@marcoliborio.me

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