
China, EUA e os desafios da Europa
A China é hoje um player de primeira linha a nível mundial. Relativamente a este facto parece ninguém ter dúvidas. Daí devermos prestar a devida atenção às palavras do presidente Xi Jinping, proferidas recentemente em Davos. A linha central do seu discurso assentou no conceito de “futuro partilhado”. Xi Jinping reiterou a sua defesa de uma globalização económica sustentável, e sublinhou esta ideia com números deveras impressionantes: “Nos próximos cinco anos, a China vai importar 8 triliões de dólares de bens, atrair 600 biliões de dólares de investimento estrangeiro, fazer 750 biliões de investimento externo e os turistas chineses farão 700 milhões de visitas ao estrangeiro”.
Este posicionamento é tanto mais relevante se tivermos em consideração o que se passa nos EUA. Efetivamente, a nova administração americana parece querer construir um país “virado para si próprio”, baseando a sua retórica numa versão reciclada do “nacionalismo económico”, que parece esquecer que as grandes empresas americanas estão presentes em todo o mundo (o próprio Sr. Trump é dono de algumas multinacionais, pelo que a estratégia de comunicação adotada parece ser tudo menos inocente…).
As relações EUA-China já viveram melhores dias. Apesar do presidente Trump garantir que tudo continuará como dantes, a questão de Taiwan, bem como a das ilhas Senkaku (os EUA declararam apoio ao Japão nesta disputa de soberania com a China) poderão ser “pedras no sapato” no relacionamento bilateral num futuro próximo. Por seu lado, o “namoro” da China à Europa e à Ásia é uma realidade (veja-se o desenvolvimento de entidades como o Asia Infrastructure Investement Bank ou a Eurasian Economic Union). Acresce a aproximação da China à Austrália. Tendo em conta a forma hostil como começaram as conversações entre Donald Trump e Malcolm Turnbull (primeiro-ministro australiano), é de esperar que a Austrália reveja o seu posicionamento estratégico habitual de proximidade com os EUA.
Enquanto isto, a Europa parece estar relativamente à deriva, e preocupada em tentar curar as feridas internas, causadas pela divisão norte-sul (acentuada pela austeridade imposta aos países periféricos, longe de ser debelada), e reforçada pelo Brexit. A crescente onda nacionalista em alguns países é a “cereja no topo do bolo”, merecendo especial atenção o resultado das próximas eleições francesas, que ditarão certamente muito do que será o futuro da União Europeia e da própria Europa.
Seria fundamental para o equilíbrio de forças mundial que a União Europeia tivesse a capacidade de se reinventar enquanto bloco económico e político. Tendo em conta os últimos desenvolvimentos geoestratégicos, e nomeadamente o posicionamento ainda incerto dos EUA, o mundo necessita de uma Europa capaz de estar no principal tabuleiro do xadrez mundial, desempenhando um papel de equilíbrio de forças entre os vários interesses antagónicos. Veremos se as lideranças europeias têm essa capacidade…
Até breve!
Marco Libório
CEO da UWU Solutions / Consultor / Docente
Caro autor deste post: O senhor não é – não pode ser – o Marco Libório! É que eu escrevi-lhe (a ele) na sequência do post sobre o eucalipto de 17 de Fevereiro e ele não acusou a resposta, não a publicou, nem me respondeu…! Diga-me onde ele está, se faz favor, para eu o poder ajudar.
Caro João Soares,
Sou eu mesmo. O tempo é que por vezes não dá para fazermos tudo o que queremos. As minhas desculpas pela demora na resposta, e o meu muito obrigado pelos seus comentários. Um abraço.
Fico feliz que seja (só) isso! Cumprimentos