Economia, Fiscalidade

Porque somos maus pagadores?

Porque somos maus pagadores?

Porque somos maus pagadores?

No passado mês de Junho foi publicada a mais recente versão do estudo “Como pagam as empresas”, por parte da Cribis D&B. Este estudo analisa a evolução dos comportamentos de pagamento das empresas nos principais países do mundo, tendo sido considerados 28 países. Relativamente à Europa foram analisados 17 países, incluindo Portugal.

Vejamos então algumas conclusões deste estudo, no que ao nosso país diz respeito.

Desde logo importa realçar que, comparativamente com os nossos parceiros europeus, continuamos a ser dos piores pagadores. A percentagem de empresas que cumprem os prazos de pagamento em Portugal está nos 17,4%, sendo que a média europeia se situa nos 37,6%. A título de curiosidade, A Dinamarca é a campeã europeia das empresas que pagam dentro do prazo, com 90,3% de empresas cumpridoras. A Alemanha e a Hungria aparecem em segundo e terceiro lugares, com 74,8% e 52,3%, respetivamente.

Aprofundando os resultados obtidos por Portugal, podemos verificar que mais de metade das empresas (58,9%) pagam com atraso até 30 dias, sendo que a percentagem de empresas com pagamentos em falta há mais de 90 dias (12,4%) é a terceira maior entre os 28 países analisados. Em termos de dimensão das empresas, as micro e pequenas empresas registam o maior cumprimento do prazo de pagamento (20,2% e 17,7% das empresas, respetivamente). Quanto aos setores de atividade, a Agricultura e Pescas é o que apresenta melhor desempenho (27,1% das empresas pagam dentro do prazo). A Construção tem a maior concentração de empresas que pagam com mais de 90 dias de atraso (21,5%).

Em termos evolutivos, podemos observar uma melhoria de 2013 para 2014, já que a percentagem de empresas com pagamentos dentro do prazo subiu 0,9 pontos percentuais (pp) e desceu a percentagem de empresas com pagamentos com atraso até 90 dias (-0,5 pp) e com mais de 90 dias (-0,4 pp).

Porque será então que continuamos a ser maus pagadores? Muitos dirão que tem a ver com o facto de termos uma economia frágil. Então o que dizer da Hungria, que está bem à nossa frente no ranking dos melhores pagadores, e que apresenta um PIB anual per cápita de 10.500 euros, contra os nossos 16.600 euros (valores de 2014). Provavelmente não será essa a razão principal. Será que se trata de uma questão cultural? Terá a ver com um certo sentimento de impunidade entre os incumpridores? Estará relacionado com o mau funcionamento da Justiça, quando se trata de cobrança de dívidas em atraso? Bem, provavelmente será um pouco de tudo isto, e simultaneamente de outras razões.

Seja qual for o motivo (ou motivos), este problema tem um efeito muito nefasto na nossa economia. Efetivamente, o atraso dos pagamentos tem como consequências diretas o aumento dos custos financeiros das empresas, pela necessidade de recorrer ao crédito para cobrir as quebras de liquidez, o aumento das dificuldades no cumprimento das responsabilidades para com os fornecedores, o estrangulamento da atividade operacional da empresa por falta de capacidade financeira e o adiamento de projetos de investimento. Seria importante que todos nós refletíssemos sobre isto, pois está em causa um fenómeno que prejudica sobremaneira a competitividade da economia portuguesa.

Até breve!

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CEO da UWU Solutions / Consultor / Docente 

mliborio@gmail.com

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